Bendito Itamar!

O músico, cantor e compositor Itamar Assumpção, um dos grandes nomes da Vanguarda Paulista, faria 64 anos nesta sexta-feira treze

Itamar: ele renegava o rótulo de "maldito"

Itamar: ele renegava o rótulo de “maldito”

Uma sexta-feira treze. Não há dia melhor e mais cercado de mistérios para comemorar o aniversário – ou simplesmente relembrar – o “maldito” Itamar Assumpção. Se estivesse vivo, o músico completaria 64 anos neste 13 de setembro de 2013.

Nascido na cidade de Tietê, no interior de São Paulo, Itamar ganhou destaque no começo dos anos 80 como um dos principais nomes da Vanguarda Paulista, uma turma de artistas independentes e para lá de criativa que encontrou no Teatro Lira Paulistana o lugar ideal para sua música. Ao lado de Itamar, estavam nomes como Arrigo Barnabé, Grupo Rumo, Tetê Espíndola, entre outros.

Cartaz anunciando um dos muitos shows que Itamar fez no Lira

Cartaz anunciando um dos muitos shows que Itamar fez no Lira

Com uma mistura de samba, rock, funk e reggae, Itamar lançou seu primeiro LP em 1980. Beleléu, leléu, eu – gravado com acompanhamento da banda Isca de Polícia – foi também o primeiro disco lançado pelo selo Lira Paulistana, criado para abrigar artistas e bandas que não se encaixavam – ou não se rendiam – ao esquema das gravadoras.

O grande destaque do seu primeiro disco, a canção Nego Dito, dizia, entre outros versos: Não gosto de gente/ Nem transo parente/Eu fui parido assim/Apaguei um no Paraná. As letras contundentes, sua opção pela independência artística e sua identificação com a marginalidade e com os temas ligados à periferia paulista renderam a Itamar o rótulo de ‘maldito’, título que ele renegava.

Definir um artista tão complexo e completo quanto Itamar Assumpção não é uma tarefa fácil. Como bem disse a cantora Suzana Salles – que dividiu o palco com o músico inúmeras vezes – no documentário Daquele Instante em Diante (direção de Rogerio Velloso, 2011), que aborda a obra de Itamar: “O cara era uma complexidade só. Uma figura rara mesmo.” Ou, como afirmou o compositor e musicólogo Luiz Tatit, líder do Grupo Rumo, no mesmo filme: “Ninguém fica ileso ao ouvir Itamar. A canção dele fere.”

De certo é que Itamar – juntamente com seus companheiros de Vanguarda – mexeu com a música brasileira em um momento em que ela navegava em águas calmas, com grandes nomes como Caetano Veloso, Chico Buarque, Elis Regina, Gal Costa, Ney Matogrosso, Maria Bethânia, Simone, entre outros, com suas carreiras consolidadas, com público garantido e apoio das grandes gravadoras.

Vídeo: Itamar canta Luzia

Como costuma dizer Riba de Castro, um dos fundadores do Lira e diretor do documentário Lira Paulistana e a Vanguarda Paulista, que em breve chegará aos cinemas, a Vanguarda foi o primeiro grande movimento musical brasileiro desde o Tropicalismo, pilotado por Caetano e Gil no final dos anos 60.

Itamar morreu em 2003, aos 53 anos, vitimado por um câncer. Ao longo de sua carreira, lançou sete álbuns que trouxeram composições com parceiros como Alice Ruiz e Paulo Leminski. Suas músicas foram gravadas por nomes como Ney Matogrosso, Ná Ozetti, Cássia Eller, Zélia Duncan, Mônica Salmaso…Uma de suas filhas, Anelis Assumpção, seguiu os passos do pai. Em 2011, a cantora lançou seu primeiro álbum, Sou suspeita, estou sujeita, não sou santa.

“Daqui a cinquenta anos eu sou história ou não? Itamar Assumpção na história da música brasileira ou apenas mais um que passou?”, perguntou Itamar, certa vez, em um depoimento. Precisa mesmo responder, Nego Dito?

Texto: Danilo Casaletti
Imagens: Divulgação; Arquivo Riba de Castro