Jornal do Lira exaltou a vida de Elis

Em janeiro de 1982, o jornal Lira Paulistana publicou um texto escrito por Caio Fernando Abreu em homenagem à cantora

Por Danilo Casaletti

A capa do Jornal Lira Paulistana em homenagem a Elis

A capa do Jornal Lira Paulistana em homenagem a Elis

Valeu, Elis! Essa foi a manchete da edição de número 7 do jornal Lira Paulistana que circulou entre os dias 22 e 28 de janeiro de 1982. Como não poderia ser diferente, diversas páginas do periódico foram dedicadas à cantora Elis Regina, morta dias antes, aos 36 anos de idade, em 19 de janeiro.

Enquanto jornais e revistas da grande mídia davam destaque para a causa da morte da cantora gaúcha – uma overdose de cocaína e álcool, segundo laudo emitido pelo IML à época – a turma do jornal do Lira – que fazia jornalismo independente – preferiu exaltar o legado deixado pela artista.

No documentário Lira Paulistana e a Vanguarda Paulista, de Riba de Castro,  o jornalista Cláudio Favieri (1948-2009) comenta sobre a opção da redação em sair do convencional. “Não abrimos a matéria lamentando a morte, e sim exaltando a vida dela”, disse Favieri, para Riba de Castro. “Tanto que a capa era ela com um maior sorriso e o escrito ‘Valeu, Elis!’”, completa. 

Entre fotos e declarações da cantora, o jornal Lira trouxe uma crônica inédita do jornalista e escritor Caio Fernando Abreu (1948-1996), grande fã de Elis. Gaúcho também, Caio acompanhou as primeiras apresentações de Elis ainda em Porto Alegre. No texto, reproduzido abaixo, Caio lamenta a morte da cantora. “ E logo você, bicho? Tão agitadinha, tão atrevidinha e cheia de vida?”, escreveu.

O texto que o jornalista Caio Fernando Abreu para a amiga Elis

O texto que o jornalista Caio Fernando Abreu escreveu para  Elis

Elis também foi homenageada na tirinha Mil e uma noites, assinada pelo cartunista Paulo Caruso. No dia 25 de janeiro de 82, houve uma grande show promovido pelo Lira na Praça Benedito Calixto, em São Paulo, no qual Jorge Mautner, uma dos artistas convidados, prestou uma homenagem para Elis. “Salve Elis Regina”, gritou, seguido de uma salva de palmas do público presente.

tirinhaelis

Considera por muitos a maior cantora brasileira, Elis Regina começou sua carreira ainda criança, cantando em concursos de calouros nas rádios de Porto Alegre. Em 1961, aos 16 anos, lançou seu primeiro LP, Viva a Brotolândia, que trouxe versões para rocks e baladinhas estrangeiras. O sucesso chegou em 1965, quando ela venceu o I Festival de Música Popular Brasileira com a música Arrastão.

Ao longo de carreira, Elis lançou 28 discos, com destaque para a trilogia Dois na Bossa (1965, 66 e 67), gravada ao lado de Jair Rodrigues, Elis (1972), Elis&Tom (1974), Falso Brilhante (1976), Essa mulher (1979) e Saudade do Brasil (1980).