Cássia cantou, em seus primeiros discos, músicas de Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção e Mario Manga
Em meados dos anos 90, pouco tempo depois da morte de Cazuza (1958-1990) uma nova voz despontou na cena do pop rock nacional. Tão irreverente e provocativa- apesar de mais tímida – quanto o compositor, Cássia Eller chegava para sacudir a música brasileira.
Nascida no Rio de Janeiro, mas criada entre Belo Horizonte e Brasília, Cássia, que começou sua carreira cantando em barzinhos da capital federal, sempre colocou sua personalidade em seu repertório. E este não era limitado ao que se produzia lá ou ao que tocava nas rádios. Incluía, inclusive, a música que era feita pelos músicos da vanguarda de São Paulo.
No livro Apenas uma garotinha – a história de Cássia Eller, biografia lançada pela Editora Planeta em 2005, os autores Ana Claudia Landi e Eduardo Belo contam que Cássia cantava o pessoal da Vanguarda Paulista em suas apresentações amadoras em Brasília. Músicas de Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção e Premeditando o Breque sempre apareciam no set list da cantora.
Segundo o livro, em 1998, depois de uma passagem pelo Rio, Cássia foi a São Paulo para tentar gravar seu primeiro disco. Com as dificuldades de todo iniciante e com seu jeito meio arredio em lidar com questões profissionais, Cássia queria mesmo era esquecer os compromissos e assistir aos ídolos Arrigo e Ná Ozetti se apresentarem.
O primeiro álbum da cantora, Cássia Eller, foi lançado em 1990. Apesar de não ter feito sucesso, a poderosa voz da cantora começou a chamar a atenção dos ouvidos mais atentos. Entre as onze faixas selecionadas para esse trabalho, cinco eram da turma que tocava no Lira Paulistana ou que fez a Vanguarda Paulista na década de 80: Já deu para sentir – Tutu (Marcos Miller/Itamar Assumpção), Rubens (Mario Manga), Otário (Bocato), O dedo de Deus (Mario Manga/Arrigo Barnabé) e Não sei o que quero da vida (Hermelino Neder/Arrigo Barnabé).
Rubens virou um dos pontos altos dos shows da cantora. Cássia encarnava muito bem o personagem da letra criada por Manga – um homem que percebe um lance entre ele e seu amigo. Brincalhona, a cantora fazia caras e bocas e coçava a genitália.
Cássia canta Rubens
Mario Manga canta Rubens
Em seu segundo álbum, O Marginal, de 1992, Cássia voltou a gravar músicas de Itamar, dos irmãos Barnabé e do Manga: Sonhei que viaja com você (Itamar Assumpção), Teu bem (Paulo Barnabé) e Aquele grandão (Leda Pasta e Mario Manga).
A cantora incluiu ainda uma canção de Itamar (Aprendiz de feiticeiro) em Com você… meu mundo ficaria completo, de 1999, álbum no qual Cássia ganhou status de “cantora de MPB” pelo sucesso das faixas O segundo sol, de Nando Reis, e Palavras ao vento, de Marisa Monte e Moraes Moreira.
Cássia canta Aprendiz de feiticeiro
Cássia morreu jovem, aos 39 anos, em 2001. Passava por um momento complicado de vida, apesar do sucesso que experimentava, principalmente com o álbum Acústico MTV. Sem saber como lidar com o grande assédio e com os compromissos pessoais e profissionais, Cássia entrou em uma crise nervosa entre o Natal e as festas de fim de ano.
Internada por amigos em uma clínica no dia 29 de dezembro daquele ano, Cássia não resistiu a quatro paradas cardiorrespiratórias. A imprensa logo levantou a possibilidade de uma overdose, mas foi desmentida dias depois pelo laudo do Instituto Médico Legal do Rio de Janeiro.
Ao longo de sua curta carreira, Cássia provou que, além de grande cantora, era ligada em tudo o que se passava no mundo da música. Sua voz marcante pode ser ouvida em canções de Cazuza, Gilberto Gil, Chico Buarque, Frejat, Herbert Viana, Renato Russo, Zé Ramalho, entre outros. Uma verdadeira artista. Com todas as dores e o sabores que isso pode conter.
Texto: Danilo Casaletti