Filho de Guca, do grupo Língua do Trapo, o músico acredita que a qualidade artística é mais importante que o sucesso
Por Danilo Casaletti
Nome: Deni Domenico
Idade: 29
Cantor preferido: Chico Buarque
Cantora preferida: Elis Regina
Disco de cabeceira: Wilson, Geraldo e Noel (João Nogueira)
Canção que gostaria de ter feito: Futuros Amantes (Chico Buarque)
O que te faz seguir na música: A certeza de que as futuras gerações precisam ter referências vivas de quem faz e se dedica à música de qualidade. É possível se viver fazendo música boa.
Quando a música e as danças portuguesas chegaram ao país, no século XIX, juntamente com a corte de Dom João VI, não se demoraram muito totalmente puras. Com a influência, sobretudo do lundu, ritmo africano que também se estabeleceu nos país, a valsa, a quadrilha e o minueto acabaram ‘abrasileirados’. Aí está a origem do choro, ou do chorinho, como é chamado.
Tendo Chiquinha Gonzaga, Pixinguinha, Villa-Lobos, Ernesto Nazareth, Waldir Azevedo e Jacob do Bandolim como principais expoentes do gênero, o choro, apesar de não ter tanto espaço na mídia como o samba, continua vivo.
O grupo paulista Choro Moço é um exemplo disso. Formado por Deni Domenico (cavaco), Diego Lisboa (flauta e sax), Lucas Silva (pandeiro), Matheus Motta (violão de 6) e Wesley Ferreira (violão de 7), o grupo se dedica totalmente ao chorinho desde 2008, quando foi formado. E, principalmente: acreditam na música de qualidade, independente de fama ou sucesso.
Deni Domenico, filho do músico Guca Domenico, do Língua de Trapo, sabe o quanto é importante persistir em fazer algo com personalidade, assim como a turma do Lira fez nos anos 80. “Os idealizadores do Lira foram realmente pessoas muitos determinadas e permitiram a existência de um espaço onde surgiram e se desenvolveram grupos e artistas que deixaram ricos legados para as gerações futuras”, diz Deni.
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Em entrevista ao site Lira Paulistana e a Vanguarda Paulista, Deni fala sobre a turnê que o grupo Choro Moço fez pela Europa em 2013 – eles passaram por países como Inglaterra, Irlanda, Escócia e Alemanha – e do primeiro álbum do grupo, Chico no Choro, com canções de Chico Buarque em ritmo de chorinho.
Lira Paulistana e a Vanguarda Paulista – O fato de seu pai ser músico foi determinante para que você seguisse na mesma profissão?
Deni Domenico – Foi totalmente determinante em todos os aspectos, principalmente no incentivo nos momentos de indecisão. Na parte musical foi, com certeza, a primeira e maior referência.
LPVP – O grupo Choro Moço, assim como alguns dos grupos que fizeram parte da Vanguarda Paulista, nasceu nos corredores de uma faculdade. Você acredita que o ambiente universitário ainda é um importante local de fomento da cultura?
Deni – Acredito que sim, porém, nos dias atuais, a efervescência é muito menor em comparação ao que acontecia nas universidades nas décadas de 1970 e 1980, quando a situação política colaborava muito e a arte funcionava como um dos poucos meios de expressão da juventude.
LPVP – O grupo já viajou pela Europa já fez apresentações na Europa. Como o chorinho foi recebido lá?
Deni – O povo europeu tem grande interesse e respeito pela arte. Em muitos países sentimos receptividade maior do que temos por aqui.
LPVP – Como nasceu a ideia do primeiro CD, que traz canções de Chico Buarque em ritmo de choro?
Deni – O projeto é da gravadora Gênesis, que convidou o nosso grupo para executar a ideia. A seleção de repertório e os arranjos ficaram por conta do grupo que, além do choro, é, como um todo, admirador da obra de Chico Buarque.
LPVP -Você não chegou a frequentar o Lira… Seu pai conta muitas história daquela época? Você já conseguiu a chegar a uma definição sobre o que essa turma representou para a música brasileira?
Deni – Conheço muitas histórias e muitas das pessoas que tocaram no Lira. Ao ver o documentário do Lira, senti como se já tivesse estado por lá. Um dos trabalhos de pesquisa que fiz durante a faculdade (Deni é formado em Educação Musical) foi à respeito da Vanguarda Paulista. A Vanguarda representa a continuação de um movimento natural da música brasileira no qual uma geração pega elementos existentes e soma novas ideias e elementos sem perder o “fio condutor” da linguagem e do espírito da música popular brasileira. A Vanguarda só não influenciou mais as gerações subsequentes por falta de espaço na mídia.
LPVP – Qual o exemplo do Lira e da Vanguarda você acredita que todo o artista deveria seguir?
Deni – O principal exemplo que eu sigo é fazer a arte (no meu caso música) que eu acredito sem pensar em fama ou sucesso, sendo o reconhecimento futuro, fruto do trabalho, dedicação e crença na qualidade artística. Os idealizadores do Lira foram realmente pessoas muitos determinadas e permitiram a existência de um espaço onde surgiram e se desenvolveram grupos e artistas que deixaram ricos legados para as gerações futuras.