Filha de Alzira Espíndola e irmã de Iara Rennó, a cantora e compositora lança seu primeiro álbum
Por Danilo Casaletti
Nome: Luz Marina Espídola
Idade: 30 anos
Cantor preferido: vários. Os da última semana: Leo Cavalcanti, Dani Black e Juliano Gauche.
Cantora preferida: Ná Ozzetti e Tulipa Ruiz.
Compositor preferido: Alice Ruiz, poeta arrudA, Maurício Pereira e Itamar Assumpção.
Disco de cabeceira: Muitos, o de hoje: “Um banda Um”, do Gilberto Gil.
Canção que gostaria de ter feito: “Apaixonite aguda”, de Itamar Assumpção.
O que te motiva a seguir na música: o encontro, o movimento e o acaso.
Ela tem um nome não muito comum: Luz Marina. Se acrescentarmos o sobrenome Espíndola fica fácil perceber que a cantora e compositora faz parte de uma família bastante musical. Filha de Alzira Espíndola, irmã de Iara Rennó, sobrinha de Tetê e Jerry, prima de Dani Black, Luz acaba de lançar seu primeiro trabalho, Luz Marina, que traz composições feitas em parceria com nomes como Alzira E.( sua mãe), Anelis Assumpção (filha de Itamar), Thalma de Freitas, Lucina, Daniel Viana, entre outros.
Com a palavra, os pais:
Nascida no Pantanal, mas criada na cidade de São Paulo, Luz viabilizou o lançamento do CD por meio de um financiamento coletivo. Conseguiu R$10 mil para “colocar no forno” o álbum gravado com participações dos músicos Curumim (bateria), Bruno Buarque (bateria), João Taubkin (baixo), Cris Scabello (guitarra), Du Moreira (teclado), Marcelo Dworecki (baixo e guitarra), Charles Tixier (bateria) e Mauricio Pereira (sax).
Para ouvir:
Em conversa com o site Lira Paulistana e Vanguarda Paulista, Luz Marina falou sobre seu primeiro álbum e disse que, mesmo fazendo um trabalho bastante autoral, foi, de certa maneira, influenciada pela turma da Vanguarda. “A casa da minha mãe era como um desdobramento do Lira”, diz
Lira Paulistana e a Vanguarda Paulista – Seu primeiro CD foi concluído por meio de um financiamento coletivo. O que você achou da experiência? Recomenda essa ferramenta para quem quer produzir ou colocar um trabalho no mercado?
Luz Marina – Foi uma experiência muito positiva. O crowndfunding financiou uma parte do CD, mais ou menos um terço dele, o que já é um monte. Na lista dos apoiadores tinha amigos, família, amigos de amigos e também pessoas que nunca tive contato. Isso é muito interessante: pensar que alguém vai ouvir seu CD fora do seu núcleo antes dele ser distribuído, antes do lançamento. E essas pessoas que colaboram são atuantes da cena musical, se sintonizam com algo novo, alimentam a cultura e são alimentadas por ela. Vejo também como uma alternativa para o artista independente, já que se vende muito pouco o CD físico e o download gratuito é uma ferramenta incrível. Eu ainda gosto de pegar na mão o encarte e ver os nomes de todo mundo que fez aquilo. Ao mesmo tempo, acho que , em breve, esse lance de CD virtual vai se expander e virar algo único e diferenciado. As coisas caminham para uma multilinguagem, as artes visual e musical quase não se separam mais.
LPVP – Você já compôs com a Anelis Assumpção. A sua irmã, Iara Rennó, fundou a banda Dona Zica com ela A aproximação das filhas da Alzira com a filha do Itamar se deu por conta da música?
Luz Marina – Cantar, tocar e compor era algo muito natural quando eu era criança, assim como tomar banho, brigar com os irmãos e lavar a louça. Só mais tarde vi que não era assim para todo mundo. O Itamar era amigo-irmão-parceiro da minha mãe, consequentemente suas filhas eram como pessoas da família, dormíamos na casa umas das outras, fazíamos festinhas juntas e tal. Acompanhei a Dona Zica como uma banda de entes familiares que “conversavam pela música”. Foi um desdobramento dessa relação que levou Anelis e a Iara a formarem uma banda. Um diálogo delas também com o Gustavo Ruiz, Andreia Dias etc. Minhas composições com Anelis surgiram de sensações vividas no dia-a-dia, numa brincadeira na mesa da cozinha antes do almoço.
LPVP- Em uma família com tantos músicos e compositores você acha conseguiria seguir por outro caminho que não fosse a música?
Luz Marina – A casa da minha mãe era um ponto de encontro para tios e amigos que apareciam para tomar um café, compor, tocar, ensaiar. Mas nem todos os meus irmãos seguiram o caminho musical ou artístico. Para cada um, essa “casa-universo-musical” ficou de um jeito. Se para mim ficou como um caminho a ser trilhado, cantando e compondo, para outros pode ter ficado apenas no prazer de ouvir uma boa música, encontrar os amigos.
LPVP – Você era muito pequena quando a Lira fechou. Sua mãe conta muitas histórias de lá? Alguma te marcou?
Luz Marina – Minha mãe não estava em São Paulo durante a existência do Lira. Ela só fez um dos shows de abertura junto com o Almir Sater, depois foi para Campo Grande, onde nasci. Ela conta que meu pai, produtor dela naquela época, ajudou no “start” do Lira, na concepção de trazer artistas de três Estados em um só show, algo novo naquele tempo. Quando ela voltou para a cena, a Lira já tinha acabado, mas o movimento musical continuava. A própria casa dela era como um desdobramento da Lira (risos), do movimento de sons daquela época. Itamar vivia lá em casa e a voz dele na cozinha me marcou muito. Além das broncas que ele dava quando eu fazia manha pra minha mãe…(risos)
LPVP – Acha que sua música tem alguma influência da turma do Lira ou do som que a turma faziam lá no teatro?
Luz Marina – Com certeza. Arrigo Barnabé, Rumo e Itamar Assumpção desde a barriga, no colo e quando criança, já que minha mãe me levava muito aos shows. Uma vez, cheguei até a dormir na caixa do violão no camarim. A primeira infância é muito marcante porque não se racionaliza a música, ela habita o corpo numa pré-compreensão. Esses sons fazem parte da minha paisagem sonora como matéria-prima para as minhas criações. Ao mesmo tempo, não vejo nas minhas composições algo que me remeta diretamente à Vanguarda Paulista. É algo mais subjetivo.
Luz Marina no programa Cultura Livre
Fotos: Reprodução